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Fonte: Estadão
Para poder auxiliar demitidos e cuidar da própria reputação, empresas estendem plano de saúde, dão ajuda financeira e cedem equipamentos.
O pacote de benefícios faz parte do que o mercado tem chamado de ''demissão humanizada'', uma expressão que ganha relevância com a taxa de desemprego (que chegou a 12,9% de acordo com o IBGE) e a alta de demissões durante a pandemia da COVID-19.
Por parte das empresas, o auxilio aos demitidos também é uma forma de manter a imagem da corporação, já que ela não tem obrigação de dar esse tipo de suporte.
Juliana Amarante, advogada trabalhista do escritório Souza, Mello e Torres, explica que, legalmente, aqueles que foram contratados durante a pandemia e desligados no mesmo período não têm direito a benefícios extras.
“O desligamento humanizado não é obrigatório legalmente, mas tem um impacto social importante”. “Além disso, quando as empresas fazem demissão humanizada, o empregado pensa duas vezes antes de ajuizar uma demanda trabalhista.”
Como base no conceito de demissão humanizada, o tratamento empático é essencial, em que o contratante coloca-se no lugar do funcionário. Além dos benefícios monetizáveis, da forma de tratamento, indicações em redes sociais e criação de banco de talentos também integram a lista nesse tipo de demissão.
Para Celson Hupfer, psicólogo e doutor em psicologia social, a pandemia é a principal causadora de um grande medo e, quando associada a outra questão (como a demissão), o processo fica mais doloroso, tanto para quem demite quanto para quem é demitido.
“A demissão tem uma série de complicadores, porque o trabalho não tem só uma função econômica, mas também faz parte da realização de um grupo.”
No caso da MaxMilhas, empresa que atua no setor de passagens aéreas e precisou reduzir 42% da sua equipe, a queda brusca no setor de viagens foi emocionalmente compartilhada entre dirigentes e colaboradores. De acordo com Lucas Melo, ex-colaborador da empresa, o CEO começou a chorar na frente de todos ao explicar a situação.
“Nós não sentíamos que surgiria uma demissão, mas eles eram muito transparentes. Estávamos sempre cientes do que estava acontecendo, chegamos a 9 mil cancelamentos por dia”.
A gerente de Gente & Gestão da MaxMilhas, Luiza Rubio, afirma que foi um momento inesperado.
“Nós estávamos crescendo. E quando tudo aconteceu, nossa preocupação foi como acompanhar e ajudar nesse momento que é tão difícil.”
Para os colaboradores demitidos, a MaxMilhas deu suporte para recolocação no mercado, ajuda de custo para algumas pessoas do time e plano de saúde. Também criaram uma lista dos talentos que saíram e fizeram um guia de ações com foco em reposicionamento. Lucas conta que, 24 dias após sua demissão, foi contratado na Hotmart.
“Nunca vi uma corrente tão bonita. CEOs me chamaram oferecendo cursos, pessoas que trabalharam no RH e estavam em outra empresa também me indicaram''.
Anúncio de demissão via CEO
Empresas globais como Airbnb e Linkedin optaram por anunciar suas demissões por meio do pronunciamento de seus respectivos CEOs. Segundo o Airbnb, a empresa continuaria dando suporte nos âmbitos de: empregados desligados têm direito a pelo menos 14 semanas de pagamento; suporte na recolocação; seguro saúde até o final de 2020 e os colaboradores puderam ficar com seus respectivos laptops da empresa.
Já o LinkedIn, também optou por medidas similares. Além do suporte financeiro, que varia de acordo com as práticas específicas de cada país onde tem escritório, continuaria dando suporte nos âmbitos de: transição de carreira (programa de 6 meses); saúde (6 meses de assistência médica) e apoio tecnológico (os funcionários puderam ficar com celulares e laptops da empresa).
Uma outra empresa que adotou pacotes de medidas para dar um suporte mais humanizado para seus ex-colaboradores foi a Uber. Convênio médico estendido, salário adicional, doação de equipamentos, consultoria para recolocação, criação de banco de talentos e uma espécie de “apadrinhamento” para a indicação de vagas foram as principais ações da empresa.
Natália Antonio, que fazia parte do time da Uber e foi contratada pela Amazon.
Diana Medeiros, ex-funcionária da Uber, conta que a demissão não foi uma surpresa.
“Eu estava em uma posição que me dava a possibilidade de acompanhar de perto todos os impactos que estavam acontecendo. É uma situação muito incomum e, para cuidar da saúde do negócio, ações do tipo são necessárias.”
Diana afirma que o suporte da empresa após a demissão, em maio, deu tranquilidade para escolher os próximos passos e conseguir recolocação na empresa Liv Up.
“Estou há um mês na nova empresa, que tem uma cultura alinhada aos meus projetos pessoais, e isso foi possível devido ao apoio que a Uber me ofereceu.”
Natália Antonio, que também foi demitida da Uber, partilha do mesmo sentimento de Diana.
Ela destaca a importância de ter ficado com equipamentos de trabalho para as entrevistas que fez até ser realocada neste mês, na Amazon.
“Por mais que tenha sido difícil, esse pacote ajudou para que o processo fosse mais tranquilo”.
De acordo com o psicólogo Celson Hupfer, a maior parte das empresas que conseguiram aplicar medidas como essas (que demandam custos) são aquelas que já possuem uma posição diferenciada tanto para dentro da sua cultura quanto para o mercado.
“Essas empresas, normalmente, são mais desejadas a se trabalhar. São vistas de forma diferente não só no âmbito do trabalho, mas também no do consumo''.
Para a advogada Juliana Amarante, os frutos são colhidos depois.
“A imagem de proteção ao empregado é cada vez mais importante. Muitas pessoas estão indo trabalhar não só pelo salário, mas por benefícios, contexto moral e sensação de confiança e bem estar com a empresa.”