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Estudo mostra impacto da inteligência artificial em cargos gerenciais


(Imagem: Reprodução)

Fonte: Estadão

A inteligência artificial (IA) está em todos os lugares e, certamente, também no mercado de trabalho. Você pode não perceber, mas talvez seja mais fácil entender uma parte dessa tecnologia nos últimos meses de quarentena. Para quem ficou em casa, o home office só foi possível graças a uma gama de aplicações que usam a inteligência artificial.

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O pesquisador e coordenador do curso de Ciência de Dados e IA da PUC-SP, Jefferson Silva, destaca:

“Existe um grande medo em relação ao impacto da IA no mercado de trabalho, assim como existia um medo em relação ao software. A inteligência artificial é mais preocupante na visão de muitos analistas porque ela captura o aspecto que parece ser mais essencial para a gente, a inteligência. Imaginamos que, se tem uma máquina que é capaz de fazer coisas com inteligência, significa que postos de trabalho que conhecemos hoje vão sumir”.

Um estudo feito pelo pesquisador Michael Webb, da Universidade de Stanford, divulgado no começo deste ano, analisou o impacto da IA no mercado de trabalho por meio de um cruzamento de dados, também feito por inteligência artificial.

De acordo com a pesquisa, ele usou um software para cruzar informações de patentes com descrições de atividades profissionais. Por exemplo: ele pode ter visto que uma das tarefas de um gerente de vendas é avaliar os seus subordinados. Com isso, cruzou essa informação com as descrições de patentes que estão sendo desenvolvidas e encontrou aquelas que têm como objetivo também avaliar profissionais.

Alguns dos resultados mais relevantes obtido pela pesquisa é que a inteligência artificial já não impacta apenas os trabalhos mais operacionais, mas chega também às posições que exigem formação técnica. “Enquanto ocupações que exigem baixa qualificação são muito expostas a robôs e aquelas que exigem média qualificação são muito expostas aos softwares, são as ocupações que exigem alto nível de qualificação que estão mais expostas à inteligência artificial”, aponta o estudo.

O material foi analisado no último mês pelos consultores especializados, Igor Rocha e Silvana Machado, que afirmaram:

“Com a IA um passo adicional é dado porque ela agrega capacidade analítica, que faz comparações e análises de dados. Isso vai de encontro com algumas atividades que já pressupõem informação, habilidade técnica, formação, que serão influenciadas pela IA, seja de maneira positiva ou negativa”, explica Rocha. “Toda vez que o processamento de um grande número de dados for o suficiente para o resultado de uma atividade, provavelmente uma IA terá melhor desempenho do que o ser humano”.

De acordo com o consultor, além dos cargos analíticos dentro do mundo corporativo, os gerenciais que envolvem o monitoramento de pessoas ou de atividades também são impactados pela inteligência artificial. Posições como especialista de marketing, analista de mercado e gerente administrativo e de vendas são apontadas por ele como propícias a serem impactadas.

O receio de perder o emprego para uma máquina, seja ela um robô físico ou uma aplicação, é parte de discussões sobre o futuro do trabalho desde a Revolução Industrial. Mas quando falamos de inteligência artificial no mercado de trabalho não necessariamente estamos falando de substituição de profissionais. Os especialistas chamam a atenção para o fato de que uma atividade sofrer impacto da IA não significa que ele seja negativo. Ela também pode ser complementar e até fazer surgir novos cargos. O pesquisador Jefferson da Silva, explica:

“A tecnologia tem o potencial de substituir tarefas específicas de uma profissão, mas uma profissão tem muitas tarefas. Algumas delas são substituíveis e em outras a gente não tem uma maneira abrangente, confiável e sólida cientificamente para fazê-las com grande propriedade. Então, tendo a achar alarmista a visão de que os empregos estão em risco”.

Segundo o exemplo do gerente de vendas citado anteriormente é fácil perceber que a IA pode eliminar e facilitar algumas tarefas desse profissional, como avaliar a sua equipe, porém, existe um leque de tarefas em sua rotina que ela não será capaz de fazer. Maicon Rocha, diretor de soluções de Recursos Humanos da Oracle Brasil, afirma:

“A inteligência artificial vem como uma ferramenta muito importante para desonerar a liderança de trabalhos mais operacionais, repetitivos e processos com baixo impacto estratégico, habilitando novas possibilidades de tomadas de decisões”.

“As ações tendem a ser cada vez mais rápidas, assertivas e baseadas em dados, fazendo com que estes cargos de liderança possam se dedicar a atuar naquilo que agrega mais valor. Em alguns casos essa tecnologia terá análises preditivas embarcadas para que estes gestores possam até mesmo se antecipar em devidas situações”, conclui Maicon.

Novas habilidades serão exigidas

Com o uso da IA em diversas áreas de trabalho, é esperado dos profissionais que se dediquem a outras atividades dentro da sua posição. Neste contexto, de acordo com a recrutadora Silvana Machado, a procura também é focada nas soft skills, competências socioemocionais exclusivas de humanos.

“Justamente porque vem o componente tecnológico as soft skills se tornam mais relevantes. Para liderar uma empresa ou setor, tem que ter a sensibilidade para gerenciar e skills de colaboração, comunicação efetiva e inclusão”.

Outra exigência é a demanda por profissionais que saibam lidar com atividades ligadas à IA – em suas várias formas. Caio Arnaes, diretor de recrutamento da Robert Half, explica:

“A IA nas empresas têm demandado profissionais com conhecimento de base, análise e tratamentos de dados, que consigam tirar boas ideias de novos produtos, de novas estruturas. Em uma empresa de logística, por exemplo, a IA ajuda a prever a quantidade de produtos e de demanda e, com esses dados, o profissional vai tomar a decisão se vai abrir ou fechar um entreposto logístico”.

Os especialistas ainda ressaltam para o surgimento de cargos como diretor de inteligência artificial, diretor de Data Science, head de technology, chief digital officer (CDO) e chief transformation officer (CTO).

O tema ainda é muito complexo para que se tenha conclusões. A unanimidade entre especialistas é que o panorama do mundo do trabalho já está em processo de mudança e isso vai afetar não só os cargos operacionais como toda a hierarquia corporativa.

Segundo Glauco Arbix, professor de Sociologia da Universidade de São Paulo, é esperado que com a pandemia do novo coronavírus, e sua consequente aceleração dos processos de digitalização das empresas possam empurrar o mercado de trabalho brasileiro em direção a uma participação cada vez mais palpável da inteligência artificial. Ele afirma:

“Do ponto de vista do emprego, nós vamos ser beneficiados pelo atraso porque como a automação e a digitalização estão atrasadas, o impacto no emprego vai ser menor. Mas, com a pandemia, com certeza elas vão ocupar um lugar diferente e, por consequência, a IA vai ser mais demandada.”


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